A perda do olfato – e consequentemente do paladar, visto, que ambos os sentidos estão intimamente relacionados – são sintomas comuns de infecções virais, sobretudo daquelas causadas por coronavírus, segundo a otorrinolaringologista Maura Neves, do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP).
A especialista afirma que ainda não se sabe ao certo por que pacientes com covid-19 sofrem de perda do olfato. Uma hipótese estaria ligada a um inchaço em volta das terminações nervosas do nervo olfatório, localizadas no “teto” do nariz, que bloqueariam a chegada de odores.
“Cada vírus tem uma característica. A característica dos coronavírus é que eles são atraídos por essa região, provavelmente porque ela é abundante em ACE2, receptor a qual esse tipo de vírus se liga”, explica.nullnull
Para ela, essa hipótese não esclareceria, no entanto, casos de pacientes que persistem com os sintomas por dez dias ou mais. Tais casos deram origem a um segundo questionamento: a possibilidade de haver uma lesão nos tecidos que envolvem as terminações nervosas do nervo olfatório.
“Quanto mais tempo durar a perda de olfato, maior a chance de ter havido uma lesão no nervo e não só um inchaço e obstrução da chegada de odores. Se o nervo lesionar, o paciente vai sofrer uma perda de olfato mais duradoura. Nenhum nervo se recupera em dez dias”, afirma.
Segundo a médica, quando há uma lesão do nervo, a chance de recuperação é menor. “As células do nervo muitas vezes não crescem de novo. Existe a chance, portanto, de haver perda permanente do olfato, ou uma recuperação apenas parcial do sentido.” Ela ressalta, no entanto, que isso acontece com uma minoria dos pacientes.
Para descobrir se houve apenas um inchaço, ou de fato uma lesão, seria preciso fazer um exame de tomografia ou de ressonância magnética, de acordo com a médica. Neves ressalta, no entanto, que, via de regra, não se tem orientado isso nos consultórios, visto que o tratamento é o mesmo para ambos os casos: treinamento olfatório.
“Trata-se de um treinamento que o paciente realiza em casa, com comidas e objetos com odores familiares que ele tenha disponível. Alguns exemplos são pasta de dente, que tem cheiro de menta; vinagre; cravo ou canela; baunilha; tangerina; sucos concentrados de frutas cítricas; café; e mel. O paciente, então, escolhe pelo menos quatro desses aromas e inala cada um deles por 10 segundos, fazendo um intervalo de 15 segundos entre as essências”, orienta.
Recomenda-se que o treinamento seja realizado duas vezes por dia por pelo menos 2 anos. A médica afirma, no entanto, que a maioria dos pacientes com covid-19 apresentaram resultado entre 20 e 30 dias. A volta do olfato implica também a volta do paladar.
Ela ressalta que, apesar de perder o olfato e o paladar não sejam tão ruins quanto perder a visão ou a audição, por exemplo, perder esses sentidos afeta significativamente a qualidade de vida. “Sem o olfato e o paladar, a pessoa vai continuar vivendo, mas não vai saber se ela está cheirando mal ou não, se tem alguma coisa queimando em casa ou não e não vai conseguir sentir o gosto de suas comidas favoritas. Os cinco sentidos são fundamentais na qualidade de vida.”
*Estagiária do R7 sob supervisão de Deborah Giannini