O reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), João Carlos Salles, comentou a determinação do Ministério da Educação (MEC) pela volta às aulas presenciais nas universidades federais a partir de janeiro. A decisão chegou a ser tomada pela pasta, mas acabou revogada no dia seguinte. Ao ser publicada, a portaria foi criticada por diversas instituições de ensino. A Ufba, por exemplo, anunciou que não iria retornar às aulas presenciais.
Em entrevista a Mário Kertész hoje (4), durante o Jornal da Bahia, o representante da instituição de ensino disse que o ministro do MEC, Milton Ribeiro, não tomou como base o posicionamento dos reitores do país.
“O ministro tinha adotado um tom mais cordado, mais silencioso, e resolveu sair do silêncio para o obscurantismo num gesto só. Essa é a questão mais precisa. O que ele faz com uma portaria? Ele diz, no primeiro parágrafo do primeiro artigo, que as universidades, sem que nós tenhamos sido ouvidos, consultados, perguntados, avaliados e sem a nossa contribuição científica ou opinião institucional tivesse sido levada em conta, ele diz que 4 de janeiro, aulas presenciais com biossegurança. Essa arquitetura, essa combinação, não funciona. É desconhecimento profundo do que é a dimensão das nossas universidades e da situação da pandemia. Um descaso com a situação da pandemia”, disse Salles.
O reitor declarou que a decisão de reagir à portaria se baseia em especialistas, que apontam alto risco de contágio. “As melhores opiniões epidemiológicas dizem que você pode planejar um retorno presencial quando você tem, pelo menos, de quatro a cinco semanas de queda constante e contínua, sem repiques, da curva epidêmica. Você percebe a gravidade. É um descaso com a ciência e um gesto político, uma vontade política de constranger as universidades sem que tenhamos sido ouvidos”, afirmou João Carlos Salles
“Quando recebemos a notícia, nos manifestamos imediatamente dizendo que está mantida a nossa resolução. Na semana anterior, nosso conselho universitário, em duas reuniões, discutiu claramente a situação da pandemia e programou o próximo semestre para ele ser não-presencial, com a possibilidade de atividade presencial contanto que esteja protegida a vida da nossa comunidade, que tenhamos garantias sanitárias devidas. Estamos trabalhando bastante, mas a vida da nossa comunidade não pode ser colocada em risco”, acrescentou.
Questionado, o reitor afirmou que decisão de não retornar às aulas não pode ser considerada como “desobediência”. “Nós prestamos contas às várias instâncias, à sociedade, ao tribunal de contas, à CGU. Ou seja, não estamos fora da lei. Não somos um território que não é regrado. Ao contrário, respeitamos a lei, mas temos a possibilidade de dispor sobre as medidas que são próprias ao exercício da nossa função”, afirmou o reitor.
Fonte: M1