Mais um festival de cinema ganha versão digital, em razão da pandemia: começa nesta sexta-feira (22), às 20h, a Mostra de Cinema Tiradentes, que chega à 24ª edição. E os baianos têm muito a celebrar: na Mostra Aurora, que integra o evento mineiro, há duas produções locais concorrendo entre as sete indicadas: Açucena, de Isaac Donato, e Rosa Tirana, de Rogério Sagui. Além disso, há um longa-metragem com produção dividida entre Minas Gerais e Bahia: Eu, Empresa, de Leon Sampaio e Marcus Curvelo. Toda a programação estará disponível gratuitamente no site mostratiradentes.com.br.
A Mostra Aurora é uma das mais esperadas do festival, já que reúne cineastas ainda em início de carreira, que estejam realizando no máximo seu terceiro longa-metragem. Além disso, as produções desta seção devem ser inéditas no circuito de festivais.
O cineasta Isaac Donato, 43 anos, celebra seu retorno ao evento: “Participei em 2007 com um curta-metragem, Visita Íntima: Revista Corporal. Para participar da Tiradentes, é preciso ter uma certa relevância e fico feliz com esta volta depois de 13 anos”, conta.
Açucena |
Açucena, o longa do diretor, está oficialmente classificado como documentário, mas Isaac acredita que se trata de um híbrido entre documentário e suspense. O filme mostra uma mulher de 67 anos que todos os anos comemora seu sétimo aniversário.
A personagem real é uma moradora da Região Metropolitana de Salvador e Isaac conheceu a história dela através de Marília Cunha, que divide o roteiro com ele. Marília, que também é coprodutora de Açucena, estava desenvolvendo um projeto audiovisual voltado para questões da mulher e de patrimônio imaterial quando conheceu a história da protagonista.
“É uma história muito marcada pela invenção do tempo e isso nos chamou a atenção porque esse é um tempo de volta ao passado, um tempo de se rememorar a infância e de se resgatar a boa convivência”, diz Isaac. A festa segue os desejos de uma menina de sete anos, com direito à presença das amigas – também sexagenárias – que levam bonecas de presente para a aniversariante. Há ainda algumas crianças presentes na comemoração.
Rosa Tirana |
Isaac explica por que considera o filme um suspense: “O espectador vai se fazer muitas perguntas enquanto assiste: será que o bolo vai ficar pronto a tempo?; será que os vestidos das convidadas vão ficar prontos?; será que as amigas vão mesmo chegar com as bonecas?”.
Milagre no Sertão
Outro concorrente baiano, a ficção Rosa Tirana, conta a história de uma menina de dez anos que, inconformada com a seca de cinco anos no sertão, decide peregrinar em busca de Nossa Senhora Imaculada para pedir o milagre da chuva.
A produção é independente e, segundo o diretor Rogério Sagui, custou em torno de R$ 50 mil. “Arrecadamos o valor através de rifas e da colaboração da comunidade”, diz Rogério, que se revela muito promissor em seu primeiro longa. Trinta voluntários estiveram no set. As filmagens aconteceram na zona rural de Poções, no interior baiano.
A produção, apesar de modestíssima, tem uma qualidade técnica impressionante, com destaque para a belíssima fotografia e a trilha sonora original, gravada por Elba Ramalho. Detalhe: a composição é do próprio diretor em parceria com Binho Sá.
E há ainda a participação especialíssima de José Dumont, um dos melhores atores do país. “Mandei o roteiro por outra pessoa e não acreditei que fosse realmente chegar a ele. Mas um dia ele me ligou e disse que tinha gostado do roteiro e queria fazer o filme. Perguntei sobre o cachê, mas ele disse que não devia me preocupar com isso”, diz Rogério, sem esconder a excitação digna de um iniciante que trabalha com um ídolo de infância.
Eu, Empresa |
O terceiro longa baiano é Eu, Empresa, uma coprodução com Minas. O filme promove um jogo entre performance, ficção e documentário para tratar da precarização do mercado audiovisual brasileiro, marcado agora pelo esvaziamento de órgãos de fomento à cultura.
Fonte: Correio*