
A delação do tenente-coronel Mauro Cid trouxe novos desdobramentos que podem complicar ainda mais a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro nos inquéritos sobre a venda de joias e a falsificação de cartões de vacinação. Em depoimento à Polícia Federal (PF), o ex-ajudante de ordens afirmou ter repassado um total de US$ 86 mil em espécie a Bolsonaro, dinheiro proveniente da venda de relógios de luxo e kits de joias recebidos durante seu mandato.
Cid também revelou ter recebido uma ordem direta do ex-presidente para adulterar os cartões de vacinação dele e de sua filha, entregando pessoalmente os documentos falsificados.
Bolsonaro já foi indiciado pela PF por peculato no caso da venda das joias e por fraude na inserção de dados falsos em documentos públicos.
Segundo o depoimento de Cid, os valores em questão foram obtidos com a venda de relógios das marcas Rolex e Patek Philippe à loja Precision Watches, na Filadélfia, Estados Unidos, totalizando US$ 68 mil. O pagamento foi feito em remessas fracionadas de US$ 30 mil, US$ 10 mil e US$ 20 mil, além de outras parcelas não especificadas.
Outros US$ 18 mil vieram da venda de um kit de joias da marca Chopard a uma loja no Seybold Jewelry, em Miami. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável por homologar o acordo de delação, retirou o sigilo do caso na quarta-feira (14).
Além das transações envolvendo joias, a delação também detalha a fraude no cartão de vacinação de Bolsonaro e sua filha. Cid declarou que recebeu a ordem do ex-presidente para inserir os dados falsos.
“Confirma (que) recebeu a ordem do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, para fazer as inserções dos dados falsos no nome dele e da filha Laura Bolsonaro; que esses certificados foram impressos e entregues em mãos ao presidente”, diz um trecho do depoimento.
O objetivo da falsificação, segundo Cid, era garantir um certificado para eventuais exigências, incluindo viagens internacionais. Em dezembro de 2022, Bolsonaro viajou para os Estados Unidos, onde, na época, a entrada de viajantes estava condicionada à apresentação de comprovante de vacinação contra a Covid-19, com exceção de chefes de Estado.